Psicologia da Saúde e Processos Clínicos

Implicações clínicas da matriz estruturalista

Davi G. F. Pinotti — dom, 18 abr 2021 18:52:59 -0300

O movimento que se pretende é, partindo das primeiras concepções de estrutura como método de investigação para o ideário romântico, passar pela virada linguística da filosofia em meados do século XX e desembocar na ultrapassagem pós-moderna da tentativa de superação do sujeito compreendido anteriormente como barreira à objetividade. A partir da estrutura enquanto estrutura linguística, torna-se possível discutir, através de vinhetas clínicas, o estatuto da verdade presente no âmago da querela diagnóstica na clínica contemporânea. Supor que a psicologia tem a verdade daquilo que causa o paciente acarreta em desdobramentos múltiplos, a começar pela ignorância por parte dela própria sobre as dinâmicas de poder implicadas pela inexistência de uma visão exterior à estrutura.

A captura da subjetividade pelo capitalismo colonial-racial, e a clínica psicológica como prática criadora de novos mundos

Isadora Lima Zanini, Larissa Niemann Pellicer — dom, 18 abr 2021 18:55:50 -0300

Este ensaio faz uma leitura de como a construção de subjetividades na contemporaneidade está submetida ao neoliberalismo e à modernidade, ambos considerados o sistema econômico-político dominante de nosso momento histórico. Contextualizando histórica e geograficamente, percebe-se que a base estrutural para esses modos de vida se inicia no período de escravização e exploração de territórios com a colonização - aqui em foco, da América Latina. Ao observar o surgimento da clínica psicológica e suas origens epistemológicas foi percebido que, estando vinculada ao sistema dominante, a Psicologia teve como pressupostos históricos a universalização e normatização dos sujeitos, instituindo formas de ser e estar no mundo hierárquicas e corroborando com a captura da energia-ação dos sujeitos e suas servidões (in)voluntárias. Assim, retomando as formas de resistência e tensionamento dos povos originários frente à violência e destruição colonial, tivemos como objetivo propor uma clínica psicológica outra, contracolonial, a ser utilizada como ferramenta subversiva à captura da potência criativa e criadora das subjetividades pelo atual regime hegemônico. Para isso, vemos como necessário ir de encontro à lógica colonial em suas raízes epistêmicas, materiais e simbólicas, e apoiarmos uma integração da Psicologia com os saberes ancestrais e sua implicação em uma atuação política, coletiva e libertadora.

Atendimento Psicológico a pessoas enlutadas durante a Pandemia do novo Coronavírus

Ariele Teixeira Zeferino, Júlia Fransoze Soriani — dom, 18 abr 2021 00:00:00 -0300

O surgimento do novo coronavírus (COVID-19) e a caracterização do mesmo pela Organização Mundial da Saúde como sendo um estado pandêmico, provocou uma grande mudança no modo de vida e de atuação profissional nos mais diversos contextos. A atuação clínica da prática do psicólogo precisou ser revista e revolucionada para que atendesse a demanda advinda do novo contexto mundial. Além disso, a temática do luto, mostrou-se mais presente e mais complexa de se entender e, para isso, também o trabalho do psicólogo precisou se adaptar. No presente artigo é refletido acerca da atuação do psicólogo frente pessoas enlutadas decorrente do COVID-19 e do contexto da pandemia.

O tratamento da ansiedade através de intervenções baseadas na internet

Maria Luisa Gontijo Gouveia — dom, 18 abr 2021 00:00:00 -0300

Estudos confirmam um aumento significativo de perturbações psicológicas relacionadas à ansiedade no período pandêmico comparativamente a períodos normais. A pandemia provocada pelo Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) implicou o isolamento do convívio social e todas as formas de trabalho e lazer sofreram modificações, de modo que a tecnologia tornou-se uma ferramenta ainda mais importante, inclusive no tratamento de questões de saúde mental da sociedade. Este trabalho objetiva discutir o tratamento da ansiedade através da psicoterapia online tendo como pano de fundo o estágio numa clínica-escola situada no sul do Brasil.

Uma aproximação entre o luto, a pandemia do COVID-19 e a atuação do Psicólogo Clínico

Emanuel Aparecido Peixoto, João Eduardo Martins Junior — dom, 18 abr 2021 00:00:00 -0300

O trabalho a seguir fala sobre a pandemia do COVID-19, que deixou inúmeros mortos, famílias destruídas e pessoas enlutadas no Brasil, o luto normal e patológico, sua relação e implicações com a saúde mental e a importância que o tema tem de ser estudado e trabalhado pelos profissionais de Psicologia clínica. Independentemente da abordagem de cada um, os autores do trabalho acreditam que o psicólogo clínico, no trabalho com saúde mental, possui capacidade de amenizar um pouco o sofrimento intrínseco a esse período que estamos vivendo, além de ajudar as pessoas a trilharem novos caminhos e possibilidades de se pensar sobre a perda de pessoas e coisas significativas na vida. Além disso tudo, falamos brevemente sobre a experiência prática de um estágio em saúde com foco em pessoas em luto.

Atenção psicológica em casos de violência de gênero contra a mulher

Bibiana Beck Garbero — dom, 18 abr 2021 19:06:41 -0300

A violência é uma das manifestações mais extremas da desigualdade de gênero. Se configura em uma violação dos direitos humanos, tendo implicações na perspectiva de vida das mulheres e em sua saúde mental. A judicialização não é a única via de reparação: a atenção psicológica também ocupa este espaço em diferentes âmbitos, tanto no sistema de garantias de direitos, quanto nos serviços de saúde públicos e privados. Partimos de teorias críticas de gênero para sugerir intervenções possíveis em atenção psicológica para casos de violência de gênero contra mulher para psicólogos que acreditam que a clínica pode ser um lugar de emancipação e transformação social.

Clínica ampliada: a atuação da psicologia na atenção psicossocial à população em situação de rua

Kamila Patrocínio, Maria Laura Silveira dos Santos, Henrique Felix Alvarez — dom, 18 abr 2021 00:00:00 -0300

Busca-se, no presente ensaio, estabelecer reflexões acerca do papel da psicologia diante da ruptura existente na relação entre a população que se encontra em situação de rua e as outras camadas da sociedade. Com tal objetivo, inicialmente é descrita parte da trajetória do país no âmbito da saúde mental, sendo apresentado o embate entre o modelo manicomial e a atenção psicossocial. Em seguida, destaca-se esse segundo campo como uma possibilidade de atuação dos psicólogos na construção de outras configurações relacionais para o público em questão, através da definição da clínica ampliada como um cuidado integral, pautado na compreensão da saúde mental como elemento indissociável da realidade material e simbólica em que os sujeitos estão inseridos. A partir dessa noção, são levantadas problemáticas no acesso dessas pessoas aos direitos sociais e às políticas públicas que deveriam garanti-los, apontando obstáculos para a atuação política da psicologia no atual contexto brasileiro. São discutidas também questões acerca do impacto da Covid-19 na população em situação de rua. Por fim, defende-se que a psicologia e os outros saberes envolvidos com essa população devem ao máximo buscar a potencialização desses sujeitos, questionando práticas que se desviem desse objetivo.

A importância da aliança terapêutica na efetividade do processo psicoterápico

Elisa Sobral Marques, Bruna Ananda Marques Garbelotto — dom, 18 abr 2021 00:00:00 -0300

Uma meta-análise publicada em 2019 buscou levantar fatores preditores de sucesso no processo psicoterapêutico, dentre eles, um fator comum que se mostrou mais frequente (foram consideradas diversas abordagens psicológicas) e relevante foi a aliança terapêutica (A.T.). O fenômeno se trata de um vínculo colaborativo, majoritariamente consciente e orientado para um objetivo comum estabelecido entre terapeuta e paciente. A partir desse estudo as autoras visaram elaborar uma breve análise das especificidades do conceito de aliança terapêutica nas psicoterapia analítico-comportamental e psicoterapia de orientação analítica e em como esse conceito se articula na prática clínica. Com isso, observou-se como a A.T. se atualiza nas diferentes práticas psicoterapêuticas dada a particularidade de cada relação terapêutica e das subjetividades colocadas.

A psicoterapia como tratamento para o estresse decorrente do isolamento social durante a pandemia de COVID-19

Gabrielle Andrade, Aine Ferreira de Freitas — dom, 18 abr 2021 19:11:24 -0300

Desde 2020 o mundo vem enfrentando uma pandemia causada pelo COVID-19 (Schmidt et al., 2020). Dentre as estratégias adotadas pelos governos para frear a transmissão do vírus estão o isolamento e o distanciamento social (Reis-Filho & Quinto, 2020). Estudos evidenciam que o isolamento social e as diversas modificações no cotidiano resultam em consequências negativas para a saúde mental de grande parte da população, como estresse, ansiedade e depressão. Desse modo, o objetivo desse artigo foi o de apresentar uma reflexão teórica e prática acerca dos benefícios da psicoterapia para manejo do estresse em decorrência do isolamento social como medida preventiva à proliferação da COVID-19. Observa-se que a psicoeducação, estratégias de regulação emocional e modificação comportamental durante o acompanhamento psicoterápico são eficazes para o tratamento dessas demandas, o que permite reforçar a conclusão de que a saúde mental deve ser entendida como um dos pontos principais de atenção para manter o bem estar nesse período de crise.

Potências e limites da Psico-Oncologia na intervenção hospitalar: reflexões críticas

Talita Faraco Cantelli — dom, 18 abr 2021 19:11:50 -0300

O presente artigo propõe reflexões sobre os limites e as potências da intervenção psicológica em um setor de internação sob a perspectiva da experiência de estágio supervisionado obrigatório. A formação em psicologia clínica hospitalar e em intervenções em saúde costuma basear-se no setting terapêutico ideal com técnicas e recursos teóricos metodológicos voltados à circunstâncias relativamente estáveis e previsíveis, incompatíveis com a realidade hospitalar, sua dinâmica de funcionamento, atravessamentos multiprofissionais e desafios espaço-temporais. A presente reflexão apresenta como exemplos os aprendizados e vivências oportunizados em um hospital especializado em câncer para a formação prática em estágio da autora, principalmente quanto a três conhecimentos: 1) a postura e atitude do profissional da psicologia no ambiente hospitalar, 2) os limites de sua intervenção e 3) as potencialidades da psico-oncologia. Por fim, identifica-se a postura ativa do psico-oncologista na mediação das interações, na promoção de intervenções também psicoprofiláticas, considerando a comunicação como grande potencializadora do melhor enfrentamento da doença.

Psicoterapia na modalidade online: uma visão de terapeutas iniciantes

Isabela Figueira, Rodrigo Nicolazzi — dom, 18 abr 2021 19:12:13 -0300

Este artigo dialoga os percalços encontrados por psicólogos durante a pandemia que trouxe luz ao atendimento psicológico na modalidade online com as experiências de dois terapeutas em formação, e como esses percalços impactam em seu início de trajetória na psicologia clínica.

Os desafios e as possibilidades em um dispositivo da rede de atenção psicossocial no contexto da pandemia mundial da COVID-19 e de desmonte do serviço público

Patricia Egerland Bueno — dom, 18 abr 2021 19:14:04 -0300

Com a chegada do novo coronavírus no Brasil a sociedade brasileira como um todo foi impactada. Desde então, o cenário tem sido de muitas perdas e grande sofrimento para milhares de famílias. Com o agravamento da crise, não só sanitária mas também política e econômica, com a destruição planejada dos serviços públicos o que se vê em todo o serviço público é a constante reinvenção a partir das condições que se apresentam nestes serviços que, em grande parte, são afetados pela queda dos investimentos nas estruturas dos serviços, nos equipamentos de trabalho, e pela falta de investimento em recursos humanos. Assim, o que pretende discutir neste trabalho são os impactos do cenário atual da sociedade brasileira nos serviços de saúde mental e nos usuários, bem como quais podem ser as possibilidades de atuação diante o compromisso com a atenção psicossocial e os princípios da Reforma Psiquiátrica.

Grupos psicoterapêuticos como potencializadores do desenvolvimento de novas interações

Gabriel De Melo Cardoso, Idris Henriques Kawabe, Nathália Sandi — dom, 18 abr 2021 19:14:17 -0300

O surgimento da Psicologia Clínica apresenta como berço a prática médica. Assim, iniciou-se pautada por fins curativistas, a partir de um modelo biomédico de compreensão dos processos de produção de saúde e doença e de uma perspectiva de “ajustamento” dos sujeitos às normas, especialmente a mandos e desmandos da elite. Não por acaso, a psicologia clínica desenvolveu-se, num primeiro momento, para satisfazer as classes dominantes, e assim, acabou por se constituir como uma área elitista, e por sua origem europeia e no divã: privativa e individual. Ainda que hodiernamente tenha havido avanços nas mais diversas áreas, perspectivas teóricas, e práxis da psicologia; assim como, avanços nas formas de organização da sociedade e da gestão das redes de produção de saúde, o acesso à psicoterapia é muito distante de grande parte da população e os velhos moldes da práxis psicológica continuam presentes. Dessa forma, é preciso buscar por estratégias que visem viabilizar a construção de uma prática psicoterapêutica comprometida, não apenas científica e tecnicamente com todos os setores populacionais, mas também que cumpra seu papel social na construção de interações mais benéficas para todos e que reduzam ou eliminem os diversos modos de produção dos sofrimentos ético-políticos. Nesse sentido, a clínica psicológica pode, como uma estratégia possível, ir além de um espaço individual, neoliberal, e elitista, e ampliar sua escuta, também, para o contexto em que o sujeito está inserido. Partindo deste pressuposto, apresentamos reflexões transversais sobre aspectos fundantes de um processo psicoterapêutico, tais como objeto, objetivos, demandas e princípios de uma análise clínica para, a partir deles, pensar o papel de grupos psicoterapêuticos como potencializadores do desenvolvimento de novas interações e como alternativa de rompimento à velha práxis psicológica. Em seguida, exemplificamos alguns desses recursos potencializadores dos grupos psicoterapêuticos a partir de situações reais. Finalmente, consideramos que os grupos psicoterapêuticos são espaços ricos para o aumento do autoconhecimento dos sujeitos e para o desenvolvimento de novas formas de interagir com o mundo, à medida que nestes espaços os sujeitos entram em contato com experiências uns dus outres, perpassando pelas suas próprias.

Manejo clínico do abuso sexual através da prática dialógica

Katleen Luiz — dom, 18 abr 2021 00:00:00 -0300

O artigo visa discutir a postura dialógica e possibilidades da prática do psicólogo no manejo clínico em casos de abuso sexual. A partir de uma revisão bibliográfica, realizou-se um estudo sobre a terapia dialógica a partir de autores como Marra, Anderson, Martins e Gergen, a fim de compreender os impactos dessa postura terapêutica no manejo clínico de clientes em situações de abuso sexual. Busca articular a teoria construcionista e a prática dialógica ao fazer clínico frente ao tema, expondo os desafios e possibilidades inerentes à relação terapeuta-cliente, propondo reflexões sobre uma práxis que se faz terapêutica na medida em que a relação, na sua perspectiva dialógica, é colocada no centro do processo terapêutico.